Contando histórias para quem quiser me acompanhar nessa jornada

       home | textos | cadastre-se

Por quê existimos? Um manifesto da ação

“Christian, tudo tem um porquê, até certo ponto. Onde o porquê perde o sentido? Qual seria o primeiro porquê?”

Esse foi o questionamento de um grande amigo enquanto bebíamos nossas cervejas de R$5,50 em um espetinho qualquer. Como prometido, aqui está a minha resposta.

Agora, ele eu conheço bem. Você, no entanto, eu nem sei quem é. Não sei se você acredita em Deus ou se já se questionou profundamente sobre o tema.

Portanto, meu objetivo com esse texto é melhorar a sua relação com a realidade.

Quem sou eu?

É difícil responder essa pergunta quando mal sabemos o que somos nós.

Eu sou quem escreve, e você, quem lê.

Definir precisamente o que somos escapa ao escopo deste texto, mas existem alguns pressupostos básicos que eu espero que você concorde. 

1) Você tem experiências em 1º pessoa.

Experienciamos o mundo por meio desse fenômeno curioso o qual chamamos de “eu”. 

Com ele, vemos, ouvimos, sentimos e pensamos. 

Independentemente das nossas crenças, há algo que nos faz sentirmos à parte do Universo: existe o “eu” e existe o mundo com o qual interagimos.

Pode-se debater a existência de outros além de você (adianto: eu existo!), mas é impossível negar a sua própria experiência.

A existência do “eu” é inegável.

Nas palavras de Descartes: “Cogito ergo sum.” Penso, logo existo.

Também não entraremos em discussões sobre o termo “pensar” (estou me referindo às suas experiências em primeira pessoa).

Até aqui, estamos de acordo?

2) Você sente que pode alterar a realidade

Calma, isso não é papo de coach.

Estou me referindo ao fato de que, caso você não possua nenhum impedimento biológico, quando você pensa em mover seu braço, ele se move!

Novamente, não precisamos entrar em discussões demasiadamente complexas. 

Pode-se debater se isso é uma ilusão, e o “eu” é ou não apenas uma narrativa consequente de uma configuração física? Sim, mas, por enquanto, estamos falando apenas da sua experiência em 1ª pessoa (e já concordamos que ela existe).

Sigamos.

3) A realidade existe

Parece óbvio, mas precisamos deixar tudo claro quando tratamos de algo tão fundamental.

Para os filósofos de plantão, não me refiro à natureza específica da realidade, estou apenas constatando que ela existe.

O mundo físico é uma ilusão da mente? Agora, não importa.

Ao aceitarmos que existimos, também devemos aceitar que existimos em algum lugar, ainda que esse lugar não precise ser, necessariamente, físico.

4) Somos parte da realidade

Ainda que você seja um solipsista e, nesse caso, acredite ser toda a realidade, é inegável que o todo inclui suas próprias partes (se esse for o seu caso, esqueça isso! Eu também existo e não saio por aí duvidando da sua existência).


Como prometido, nenhum pressuposto difícil de aceitar.

Essa é a hora que você pensa: “Concordo, mas isso não ajuda em nada!”. Nisso, discordamos.

O que é a realidade?

Esse texto é sobre o porquê de existirmos e, agora, acredito que estamos um pouco mais perto de entender essa pergunta.

Note que, mesmo para descrever aspectos aparentemente óbvios, eu precisei pisar em ovos para ser preciso!

Afinal, nossa compreensão está limitada pela linguagem, e é através dela que eu me comunico por esses símbolos.

Através dessa, eu estou tentando transmitir informação.

Informação

Como humanos, estamos constantemente buscando entender. Por isso, nossa mente está constantemente em busca de informação.

Para evitar confusões, vamos definir desse modo:

Informação é a organização significativa de uma configuração que efetivamente reduz ou tem o potencial de reduzir a incerteza sobre ela.

Note que, intencionalmente, busquei uma definição que abrangesse o conceito nos seus mais diversos contextos: Linguística, Física, Biologia, Computação…

Sugiro fortemente que você pare um pouco e reflita sobre ela. 

Mais uma vez, algo que pode parecer óbvio depois de dito, esconde em si um potencial para expandir a nossa compreensão da realidade.

Linguagem

Linguagem é um sistema estruturado que possibilita a organização, transmissão e interpretação de informações.

Novamente, defini intencionalmente desse modo para que seja possível utilizá-la em outras categorias.

Por quê? Para mostrar que a linguagem não é um processo inerentemente humano.

O DNA pode ser definido como uma linguagem biológica, da mesma forma que Python é uma linguagem de programação ou equações matemáticas são a linguagem usada para descrever fenômenos físicos.

Então, o que temos de tão especial? Experiências em 1º pessoa!

Não afirmo que essas outras entidades não as possuam, mas podemos afirmar com certeza que nós as temos.

Domínio da linguagem

Já imaginou tentar se comunicar através do DNA para descrever como é estar apaixonado?

Embora seja um exercício divertido, simplesmente não faz sentido.

O DNA é extremamente útil para organizar e transmitir informações sobre o funcionamento celular, mas falar sobre amor está fora do seu domínio.

Toda linguagem possui um domínio, que define o conjunto de informações que ela pode organizar, transmitir e interpretar.

Por quê existimos?

Voltando ao exemplo do DNA: é difícil imaginar uma célula se perguntando por que existe. 

Afinal, esse tipo de questionamento está no domínio da comunicação humana.

Portanto, saiba que essa dúvida é exclusivamente nossa.

Sendo assim, que tipo de resposta você espera para essa pergunta?

Porquê

De certo modo, o porquê está presente em várias linguagens distintas, estabelecendo uma relação causal entre eventos.

Uma lâmpada acende porque a diferença de potencial elétrico aplicada em seus terminais faz os elétrons fluírem pelo filamento, aquecendo-o até emitir luz.

A questão não é o “porquê” em si, mas a informação que esperamos transmitir com a nossa resposta.

Entendemos a realidade através dos nossos porquês.

Para nós, o porquê carrega um peso importante porque direciona como formulamos a realidade.

Existimos, em termos biológicos, porque bilhões de anos de evolução resultaram na seleção de estruturas e processos que maximizaram nossa sobrevivência e reprodução.

A evolução existe porque variações genéticas ocorrem em organismos ao longo do tempo, e a seleção natural favorece aquelas que aumentam a sobrevivência e reprodução em determinados ambientes.

Como é possível perceber, podemos continuar até o início do Universo. Disso, surge a dúvida do meu amigo:

“Onde o porquê perde o sentido? Qual seria o primeiro porquê?”

Universo

Vamos supor que eu descrevesse o Universo perfeitamente, até sua última instância. 

Aqui, há bastante espaço para crenças pessoais.

Nessa descrição, estaria incluído um ser que determinou, por exemplo, o que devemos fazer com nossas vidas? Ou esse modelo seria apenas descritivo, sem fornecer respostas para tais questões?

Por mais tentadoras que sejam essas discussões, elas fogem do escopo deste texto.

Como prometido, meu objetivo aqui é melhorar a sua relação com a realidade, independentemente do que você acredite.

Mesmo com uma descrição tão detalhada e quase inimaginável, nosso entendimento estaria limitado ao domínio de nossa linguagem.

Havendo algo além ou não, a nossa mente é fisicamente incapaz de acessar.

O que fazer diante disso?

Manifesto da ação

Diante disso, sigamos. Aja, meu caro leitor!

Afinal, o que mais há ser feito?

Questões sobre “outras consciências” ou “o mundo real”, por mais intrigantes que sejam, não irão impedir que você acorde amanhã nessa mesma realidade.

Não estou incentivando que esses temas deixem de ser discutidos, afinal, eles estão entre os meus favoritos! No entanto, a realidade continua se apresentando diante de você todos os dias. O que você vai fazer quanto a isso?

É possível pensar no Universo como um bloco único, onde passado, presente e futuro já “existem” e, portanto, o tempo “não passa”, conforme sugerem interpretações da Teoria da Relatividade de Einstein. O tempo, assim como o espaço, seria apenas mais uma dimensão, e a percepção de mudança seria um produto da nossa consciência ao navegar por ele.

Ou ainda, em um nível comportamental, cultural ou biológico é possível argumentar que não temos livre arbítrio, pois somos a única resposta possível à realidade. 

Essas teorias são fascinantes, mas, novamente, a realidade continua exatamente a mesma diante de você. O que você fará?

Minha sugestão: aceite-a e aja.

Acredite no que preferir, mas aceite-a e aja.

Isso não significa, como expliquei no preço da excelência, em tomar uma atitude passiva diante da vida: muito pelo contrário!

Aceitar, neste contexto, é abraçar a realidade como parte de você. É transformá-la em uma força motriz.

Diante de milhares de dúvidas, a realidade segue se apresentando para você, dia após dia. Por que não ser grato por isso? Por que não ser grato por ser capaz de falar sobre ela?

Neste momento, estou escrevendo em uma ferramenta de complexidade quase incompreensível, ouvindo músicas tão fiéis quanto possível ao instante de suas gravações. Músicas feitas por humanos, como eu e você. Estou em um notebook construído por máquinas, também criadas por humanos como eu e você.

Confusos, curiosos, mas compartilhando os mesmos domínios da linguagem que eu e você.

Eu não sei se este texto ajudou você a encontrar o porquê de você existir, mas espero que ele funcione como um porquê para agir.

Essa é a sua história.

Apenas você é responsável por conduzi-la.

Quer entender como funciona o cérebro humano? Por que não estudá-lo? Por que não conduzir pesquisas que podem direcionar o futuro da humanidade? 

Diferentemente do que parece, a Ciência não avança sozinha: ela depende de pessoas como você, que tomam as rédeas da vida e mergulham com coragem na incerteza. 

Quer ajudar pessoas em situação de rua? O que está te impedindo? Por que não começar criando uma campanha em alguma rede social, juntando recursos de terceiros e estudando como maximizar seu impacto?

Quiser viajar sozinho? Pedir algo novo no almoço? Comer sopa no café da manhã? Ligar para aquela pessoa que você sente saudades?

A realidade se apresenta para você todos os dias, até o dia em que ela não mais o fará.

Quer seguir buscando um porquê? Tudo bem, siga! Apenas não deixe de agir.

Jogue o Dado, Charles Bukowski (tradução livre)

Se você for tentar, vá até o fim.

Caso contrário, nem comece.

Se você for tentar, vá até o fim.

Isso pode significar perder namoradas, 

esposas, parentes, empregos e talvez sua sanidade.

Vá até o fim.

Isso pode significar não comer por 3 ou 4 dias.

Isso pode significar congelar num banco de parque.

Isso pode significar prisão.

Isso pode significar desprezo, zombaria, isolamento.

Isolamento é uma dádiva, 

todo o resto é uma prova de sua perseverança, 

do quanto você realmente quer fazer isso.

E você irá fazer.

Apesar da rejeição e das piores probabilidades, 

e será melhor do que qualquer outra coisa que você possa imaginar.

Se você for tentar, vá até o fim.

Não há outro sentimento como esse.

Você ficará a sós com os deuses,

e as noites irão flamejar como fogo.

Faça, faça, faça.

Faça.

Até o fim.

Até o fim.

Você cavalgará a vida direto ao riso perfeito, 

essa é a única boa luta que existe.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Envie para aquele amigo:

Junte-se aos outros:

Histórias semanais imprevisivelmente inúteis direto para o seu e-mail.