O quanto você deseja ser excelente?
Se essa pergunta fez sentido para você de imediato, este texto é sobre você. Você, que almeja a excelência.
Você, que vislumbra tudo o que pode se tornar, mas que ainda não é.
Você, que reconheceu que existe apenas um caminho possível para a sua vida, e que os outros são meras miragens. São ecos de passados inexistentes, pois a realidade segue uma única ramificação.
A única realidade possível é essa em que você está agora.
Cada uma das suas escolhas o trouxe até aqui, especificamente para esse momento. E agora, cabe à sua decisão determinar o rumo do resto da sua vida.
Responsabilidade
Carregar a todo instante a responsabilidade por quem você será pode parecer à primeira vista uma pressão imensa. No entanto, eu sugiro outro ponto de vista.
Claro, de fato é uma responsabilidade tremenda, mas como poderia ser diferente? Afinal, estamos falando literalmente da sua vida!
Instantes
Vamos criar uma unidade chamada “instante”.
Pense nela como fragmentos de tempo que dividem a sua história em todos os seus “presentes”, como os quadros de um filme.
Assim, o seu presente é justamente o instante que você está vivendo agora.
Aos físicos de plantão, essa não é uma analogia sobre o funcionamento do tempo, e sim da mente.
Agora pense: quantos instantes ainda restam na sua vida? Quantos deles separam o seu presente do seu último momento?
Tire um tempo para visualizá-los do modo mais realista possível.
Esse é você de agora em diante.
A quantidade pode parecer infinita, mas sabemos que não é. Mesmo assim, o número de instantes à sua disposição é maior do que sua mente consegue conceber.
Você será cada um deles.
Mais ainda, a cada instante você tem uma nova chance de decidir quem você é.
“Tem”, no presente, e não “terá” no futuro. Agora.
Duvida? Agora mesmo você tem o poder de escolher parar de ler este texto e esquecer toda essa ideia de excelência. Talvez ela não seja para você, e está tudo bem.
Ficando aqui ou não, a decisão é sua.
As consequências dela são sua responsabilidade.
Se, por um lado, a brevidade da vida pode nos assustar às vezes, a vastidão de instantes é inspiradora.
Em um dia bom ou em dia ruim, você olhará para os instantes que se passaram e pensará:
“Eu dei tudo de mim em cada instante?”
Alguns dirão que, por definição, sempre fazemos o melhor que podemos considerando o contexto, e analisar o passado através de um novo ponto de vista seria injusto. No entanto, essa não é a questão aqui.
Não julgamos ou nos arrependemos dos instantes passados, apenas somos gratos.
Somos gratos por tudo.
Afinal, cada instante vivido é essencial para quem você é agora. A causalidade é absoluta, e a menor mudança em algum deles faria com que eu estivesse falando com outra pessoa ao invés de você.
Então não, nós não julgamos os instantes passados. O nosso foco é no presente, o único instante em que podemos agir.
Particularmente, eu nem acredito na maioria das definições de livre-arbítrio, mas, independentemente de como definimos isso, uma coisa permanece: a responsabilidade.
Seja ela “ilusória”, “real”, “artificial”, “semântica”, chame do que quiser! Você continuará sendo responsável por decidir o que fazer com cada instante.
Entenda, no entanto, que esse é um exercício constante. Todos os dias, ou melhor, em todos os instantes, você precisa assumir a responsabilidade sobre quem você é.
Não há como fugir, esse é o preço da excelência.
Excelência
Excelente: “que se sobressai entre os melhores; prime, seleto”.
Imagine, por um momento, que o multiverso exista e que ele contenha todos os universos possíveis. Em uma infinidade deles, você nem sequer nasceu. Em outros, todos os seus instantes foram explorados de todas as maneiras possíveis.
Todas as suas vidas possíveis estão nesse multiverso.
Ao analisar esses universos, você transcende o tempo.
Assim, você separa todos os aqueles em que você tomou exatamente as mesmas decisões até este instante, o nosso momento presente.
Você se depara com todos os seus possíveis futuros.
Dentre todas as realidades, quem você escolhe ser? Qual futuro você decide tomar para si?
Eu escolheria a minha versão que se sobressai entre os melhores. O meu prime, seleto.
De imediato, já notamos que a definição de excelência é subjetiva, o que traz duas implicações importantes.
A primeira é que a única pessoa, por definição, que pode julgar a sua excelência é você mesmo.
Você é a única pessoa no controle das rédeas da sua vida.
Ninguém, repito, ninguém pode definir a excelência que buscamos, senão nós mesmos.
A segunda é menos intuitiva. Afinal, até agora parece que a excelência só existe no futuro, enquanto nós só temos acesso presente, o que implicaria dizer que nunca alcançaríamos a excelência.
Vários definem a excelência desse modo, como inalcançável, mas não é sobre ela que estou falando.
Assim como analisamos nossos instantes passados para melhorar o presente, também analisamos os nossos instantes futuros para saber onde queremos chegar.
“Quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve” – Gato de Cheshire.
Longe de mim discordar do gato!
No entanto, a excelência não é apenas sobre o destino. Ela é alcançada quando nos tornamos confiantes de que, ao longo do caminho, fizemos o melhor possível para nos tornar a nossa melhor versão.
Quando acordamos, temos sempre uma quantidade limitada e definida de instantes para aquele dia. O que define a excelência é como utilizamos esses momentos.
Qual é a melhor alocação de instantes para me tornar a minha versão excelente?
Dessa forma, a excelência existe no presente, sustentada pelo passado e direcionada para o futuro.
Essa ideia tem o poder de nos blindar contra o mundo. Afinal, independente dos resultados, a excelência reside nas ações.
O que importa se, após decidir tentar vender algo para estranhos através de ligações, você recebeu 200 não’s seguidos em um dia? Amanhã você poderá ajustar sua estratégia (e essa iteração é fundamental), mas hoje, ao repousar a sua cabeça no travesseiro, você sabe que foi excelente.
Você fez o que precisava ser feito.
Esse é o preço da excelência.
“Mas como eu saberei se realmente fui excelente?”
“E se eu tivesse feito mais uma ligação? E se eu tivesse ajustado meu roteiro mais cedo? E se eu tivesse me preparado mais?”
Quanto a isso, tudo depende do seu ponto de vista.
Ponto de vista
“Pessoas de sucesso veem oportunidades em cada fracasso. Pessoas normais veem o fracasso em todas as oportunidades. Ambos estão certas. Uma delas ficará rica.” – Alex Hormozi.
Reconhecendo o cenário disfuncional do funcionamento da meritocracia no mundo em que vivemos, eu hesitei em começar esse trecho falando sobre riqueza dessa forma. Ainda assim, a citação do Hormozi me influenciou demais para que eu não atribuísse o mérito devido.
Embora um ponto de vista por si só não seja tudo, ele é um dos nossos maiores superpoderes.
Um velho estava descansando em sua cadeira de balanço, quando do horizonte surge um viajante e anuncia:
“Senhor, trago notícias. Seu filho morreu em combate.”
Uma moça que passava na rua rapidamente se compadece:
“Que tragédia!”
Ao que o velho responde:
“Talvez…”
O viajante continua:
“O exército dele foi encurralado e todos os soldados que sobreviveram ao combate foram tragicamente torturados até a morte. O seu filho escapou do sofrimento.”
“Ufa, que sorte!” – suspirou a moça.
“Talvez…” – replicou o velho.
“Entre as cartas escritas por seu filho, as dirigidas ao senhor se perderam.”
“Que horrível!” – lamentou a moça.
“Talvez…”
“Mas uma carta para sua filha foi recuperada. Era um testamento. Nele, seu filho dividia sua fortuna, conquistada nos espólios de guerra, entre vocês. Agora, vocês são ricos.”
“Ah, menos mal!” – murmurou a jovem, confusa.
“Talvez…”
O velho entendia que a realidade é complexa demais para ser julgada em termos absolutos de bom ou ruim.
Afinal, a realidade não é boa ou ruim, ela simplesmente é!
Agora, leia o trecho abaixo e se imagine na situação do narrador:
“Sentindo escorrer cada gota de suor, com o coração tão acelerado quanto possível, as minhas mão tremem e os meus ouvidos quase se ensurdecem.”
Se imaginou? O que você está sentindo?
Não lembro quando foi a primeira vez que eu me senti assim, mas certamente foi desagradável. Se eu conhecesse o termo, provavelmente chamaria de ansiedade.
Mas, nesse caso, estou descrevendo um dos momentos mais marcantes da minha vida: os minutos antes de uma luta de jiu-jitsu.
Eu estava eufórico!
E como não estaria? Em poucos minutos eu lutaria, em cima de um pedaço de borracha, contra um desconhecido que estava igualmente motivado a me colocar para dormir.
Eu poderia interpretar aquele instante como ansiedade, e duvido que a maioria dos psicólogos discordassem da minha auto-psicanálise. No entanto, para qualquer um que me pergunte, eu sempre me descreverei como eufórico.
Afinal, eu nunca ouvi falar de alguém que, antes de uma luta, se sentiu tranquilo.
Não importa o quão preparado, eu sei que aquele sentimento será sempre uma constante.
Aquele sentimento é um preço da excelência.
O preço da excelência
Preço: “relação de troca de um bem por outro”.
Qual é o preço de respirar? De comer? De beber água?
Esses atos são tão essenciais que raramente pensamos neles como algo que exige um custo, mas poderíamos, conscientemente, abrir mão de cada um deles.
Analogamente, a excelência também exige um preço essencial, o qual, sem ele, ela não existe.
Do mesmo modo que trocamos ar atmosférico, ficando com oxigênio e devolvendo gás carbônico, precisamos “respirar” para sermos excelentes.
Há um preço inerente a essa decisão.
Aqui, a palavra inerente é a chave para entender o ponto de vista que devemos assumir.
Não somos excelentes apesar do preço que pagamos: o preço que pagamos define a nossa excelência.
Assim, finalmente fica claro o ponto de vista que devemos assumir.
Não devemos lutar ou gritar contra o preço da excelência, mas apenas aceitá-lo.
Sim, isso é tão difícil quanto parece, mas esse é o preço da excelência.
Renúncia ou sacrifício
Tão importante quanto entender o preço da excelência é compreender que o recurso despendido nessa troca não poderá mais ser utilizado para outras finalidades.
A decisão de pagar o preço implica abrir mão de todo o resto.
Por mim, eu seria excelente em tudo! No entanto, parte do preço é entender o quão caro é a excelência.
Cara o suficiente para que, mesmo com tantos instantes disponíveis, só possamos exercê-la em pouquíssimas áreas.
Para sermos excelentes em algumas coisas, precisamos, necessariamente, não sermos em outras.
Esse é o preço da excelência.
Entender isso é essencial para resolver situações que antes pareciam grandes dilemas.
Agora, toda questão de renúncia passa a ser sobre onde queremos ser excelentes.
Assim como respirar, esses sacrifícios não são apenas uma consequência das nossas escolhas, mas parte essencial dela.
Isso significa que devemos renunciar a tudo o que nos distancia da excelência? Se o seu objetivo é ser excelente, sim!
No entanto, lembre-se: a definição de excelência é somente sua.
Por exemplo, eu desejo ser um excelente pai no futuro. Por isso, abdicar de algumas horas de trabalho para estudar sobre neuropedagogia é, para mim, uma boa escolha. Para alguém focado exclusivamente no sucesso profissional, essa decisão pode parecer sem sentido.
Independentemente do cenário, todos temos uma quantidade limitada de instantes. Cada instante usado sem intenção pode nos afastar de uma realidade mais excelente.
Só quando entendemos isso como parte do jogo é que conseguimos nos libertar dos ideais que nos foram impostos e nos tornamos autênticos.
Autenticidade
Autêntico: “cuja autoria é atestada. Genuíno, legítimo, verdadeiro.”
Ser autêntico significa possuir unicidade entre o seu “eu interior” e o seu “eu exterior”. Ou seja, autêntico é aquele que faz o que acredita.
Imagine o quão poderosa é a pessoa que faz o que fala, fala o que pensa e se orgulha do que faz.
Esse indivíduo precisou abrir mão de todas as vozes impostas a ele, reconhecer a sua própria e agir sobre ela.
Nesse processo, ele renunciou a todas as outras ações que poderia ter realizado.
Ele pagou o preço da excelência.
“E se essa pessoa for má? E se ela for estúpida? E se não houver nela virtude alguma?”
Do ponto de vista dela, isso não importa. Não há outra versão que ela seria senão aquela.
Sendo totalmente autêntica, não há distinção entre quem ela escolheria ser e quem ela é.
História
Você conseguiu.
Você se tornou excelente em ser excelente. Consistentemente, (quase) todos os dias.
Tudo o que eu defini como excelência foi alcançado (com algumas adaptações que surgiram no seu caminho).
Mesmo sem nenhuma obrigação, a realidade decidiu recompensar o preço que foi pago. Às vezes rapidamente, às vezes bem lentamente, mas, no final, excelência sempre se revelou uma barganha justa.
Nem todos os meus sonhos foram realizados, mas você olha para trás e só consegue sentir orgulho. Orgulho genuíno, por tudo.
Cada ano, cada dia, cada instante. Você viveu uma vida de excelência.
Ao olhar para trás mais uma vez, você se lembra do dia em que eu decidi que seria você. Você reformulou o destino várias vezes durante a jornada, mas você não seria quem você é se não fosse essa minha primeira decisão (ou todas as outras que eu ainda irei tomar).
Nós nos olhamos.
O sentimento é de admiração mútua. Eu, pelo que me tornarei. Você, pelo que sou.
Eu pergunto se há algo que você queira me dizer. Algo que você gostaria de ter ouvido.
Você responde que só me pode falar aquilo que já ouviu:
“Aqui, no que você chama de futuro, eu já existo. Apenas uma sequência de instantes nos separa. Tempo. Nada mais. Tudo o que você precisa fazer é confiar na história.”
“Como eu posso confiar em uma ideia escrita em um site qualquer? Como posso aceitar que, diante de todos os cenários possíveis, você existe? E se tudo for em vão? E se eu morrer amanhã, de modo cômico?
O que você está dizendo é que eu devo apenas… seguir?”
Você responde:
“Esse é o preço da excelência.”
6 respostas
“Para sermos excelentes em algumas coisas, precisamos, necessariamente, não sermos em outras.” Queria que este fosse um daqueles sites de fofoca que escrevem com base em desinformação; aí eu fecharia o navegador e me confortaria pensando que é uma grande mentira. Mas, embora você tenha frisado que a excelência é um conceito e uma jornada subjetiva, o preço que se paga é inerente a qualquer projeto que se tenha para se tornar excelente em algo. Repito o que eu disse nos últimos dias, e essas minhas palavras que são distantes do praticável: tudo o que eu queria fazer era tudo.
Gosto do exemplo da luta de jiu-jitsu. Iniciar o processo de aulas com um novo estudante me causa o mesmo sentimento, e agora começo a pensar que isso é possível por uma preocupação combinada entre incluir, no mínimo, tudo de positivo que esteve presente na aula com outros alunos e ser muito melhor na direção dos encontros que nos anteriores. Se entrar em aula não apresenta o mesmo perigo que ser posto para dormir em um tatame (assim esperamos, ao menos), faz sentido que seja o boleto da busca por excelência chegando, e faz sentido também que essa busca – mesmo no contexto de enxergar o progresso diário e ter paixão pela jornada – também seja um caminhar desconfortável.
Adorei sua partilha e, se nós, leitores, que ganhamos o direito de ser o texto hoje, pudermos fazer um pedido, eu gostaria de te ouvir explorando esse sentimento de euforia. Você acha que é uma felicidade desconfortável? De todo modo, foi assim que me senti lendo essa sua verdade inconveniente. Sou grata por ela, e também me lembrou de Calle 13 cantando: “Sempre digo o que penso! Aqui não há armas, eu jogo de forma inteligente e com um par de palavras posso te tirar um par de dentes. (…) Sempre digo o que penso, e minhas letras grosseiras são mais educadas que o teu silêncio.”
Por mais democrático que esse projeto se proponha a ser, acredito que não exista algo como “vocês, leitores”. Reforço essa ideia com ênfase especial porque a leitora em questão é você!
Quanto ao pedido, não há tema que você pudesse sugerir que eu não encontrasse uma maneira de escrever. Euforia? Está na lista. ✅
Adianto que considero a maioria dos desconfortos como um ponto de vista.
Reconheço, porém, que em alguns casos existem sintomas físicos mais intensos, como já conversamos. Nessas situações, sugiro enxergar essa condição como o preço da excelência, ao invés de pensar nos sintomas em si. Pode ser que você precise treinar 10x mais e fazer horas de terapia apenas para se sentir “normal” antes de dar uma aula, por exemplo. Até que não faça mais, isso faz parte do jogo.
Sei que não é fácil. E entendo que as mesmas situações provavelmente são infinitamente menos desconfortáveis do meu ponto de vista, mas esse é o preço!
Enquanto você foi agraciada com uma lista quase interminável de características que a tornam muito mais propensa à excelência do que a maioria das pessoas, essa questão específica te custa um pouco mais cara.
Por isso, não sugiro a normalização desse tipo de desconforto.
No entanto, durante a jornada que você está trilhando para superar essa questão, sei que será inevitável encarar os sintomas diretamente com certa frequência. Nesses momentos, pelo menos nos minutos que antecedem aquela aula com um novo estudante, acho que vale repetir confiantemente para si mesma:
É só o preço da excelência. Até que não seja mais.
Texto muito bom. Dois pontos me agradaram particularmente: a história do velho e a analogia da luta de jiu-jitsu.
A primeira evoca uma espécie de niilismo positivo, de tom quase budista, que geralmente me conforta em tempos de crise e de desgraça iminente. Ainda mais porque amparo essa despreocupação das coisas sobre a Providência divina, e posso suspender o juízo de valor sobre os eventos.
A segunda, me traz à tona uma frustração onipresente na vida por não conseguir ter pleno controle das emoções, ainda que a razão pareça estar alinhada à Verdade (e sabemos que a Verdade é uma coisa kkkkkkk). Antes de uma luta, de uma prova de habilitação ou diante de um revólver, é simplesmente impossível cessar o tremor e o suor. Mas acontece que superar as reações fisiológicas imediatas, a concupiscência e a dor de persistir consiste justamente no preço da excelência.
Ungatz! De fato, a verdade é uma coisa, e aceitá-la é o preço da excelência. A história do velho agora me agrada ainda mais, pois imagino o velho de Lucky com sua cara rabugenta.
Obrigado pelo comentário, choque ou nada. ⚡
Sigamos!